Por uma política das interferências: tensões entre arte, cultura e cidade nos trabalhos artísticos de Berna Reale, Bruno Faria e Renata Lucas
Resumo: Esta tese tem como objetivo investigar os imaginários urbanos traduzidos nas intervenções artísticas de Berna Reale, Bruno Faria e Renata Lucas. Para isso, tenta responder à seguinte questão geral: para quais sentidos as práticas desses artistas convergem no tensionamento com a experiência urbana? Esses artistas passaram a lidar com a cidade não apenas como suporte, mas como a razão na qual suas práticas se estruturam e para a qual se organizam. Considerando que atualmente a cidade ocupa um lugar central para o entendimento da vida contemporânea, isso se desdobrou, nesta tese, em um estudo sobre arte contemporânea brasileira e experiência urbana no século XXI. A partir da necessidade de desvinculação das metanarrativas urbanas das ditas “cidades globais”, o trabalho assume a importância de um estudo que articule arte, cultura e cidade em contextos de sociedades desiguais, nas quais o conflito é fundante das relações sociais e das próprias representações. As produções artísticas investigadas estão situadas em um contexto de arte no qual as regras e os valores da arte tradicional e da arte moderna se tornaram insuficientes para a interpretação do objeto arte. Isso conduziu a linha argumentativa da tese a uma reflexão sobre a crise da representação e do cânone moderno na arte, demonstrando como a arte contemporânea demanda uma ruptura com o conceito tradicional de cultura. Isso aproxima a arte contemporânea das demandas que têm preenchido os debates a respeito da emergência e consolidação de uma epistemologia múltipla que pretende o pós-colonial. Com vistas à articulação teórica do objeto de pesquisa, o trabalho toma como referencial teórico básico a teoria da cultura de Homi Bhabha. Utilizo as categorias de fronteira, hibridismo, negociação e espaço liminar relacionadas às noções de deslocamento, deslizamento e estranhamento oferecidas por Bhabha para a elaboração da chave interpretativa direcionada ao objeto de estudo em questão. Para a articulação metodológica do objeto e definição do procedimento de análise, é utilizado o conceito de performance de Diana Taylor. A construção dos dados se deu por meio da pesquisa documental (de textos, fotos, vídeos e críticas de arte) e de entrevistas semi-estruturadas e conversas com os artistas estudados. A partir da análise empreendida, conclui-se que os trabalhos de arte pesquisados expõem o modo de operação da vida pública enquanto funcionamento de nossa cultura política das cidades contemporâneas. Fazem isso ao mobilizar outras formas de concepção e experimentação do cotidiano urbano; ao se orientarem pela perspectiva da diferença na exposição das tensões políticas e sociais de um espaço social não sincrônico; ao destacar os elementos visíveis que são estrategicamente neutralizados pelas desigualdades que estabilizam as paisagens de poder. Por fim, conclui-se que os limites da arquitetura e do planejamento urbano em traduzir as dimensões de uso do cotidiano da cidade, a fragilidade dos espaços públicos e a estetização da experiência urbana se constituem em lugares epistemológicos da cultura, enquanto as formas de interferir na cidade que os trabalhos artísticos analisados apresentam se configuram como práticas enunciativas/de manifestação que rasuram o projeto instituído da cidade colonial. Aceda aqui.
ANO
2018
AUTORES
Izabella Maria da Silva Medeiros
EDITORES
Universidade Federal de Pernambuco