Pinto, S. J. P. S. M. (2015). Para uma semiótica da luz. Da visão mítica aos regimes escópicos da contemporaneidade

Partindo do pressuposto de que os historiadores de arte têm dedicado pouca atenção ao papel desempenhado pela luz no mundo visível e invisível, em detrimento do espaço e da perspetiva (Gombrich, Sedlmayer, Levi), este projeto pretende atualizar esta temática, não apenas intervindo em movimentos artísticos que privilegiaram a luz em relação ao espaço e à perspetiva, mas também percorrendo espaços e conceitos de uma ampla gama histórica e disciplinar que nos permitam contribuir para um novo olhar sobre a luz na arte, na comunicação e na cultura. No princípio da semiótica da luz, Deus é luz. A partir de Descartes e da secularização da cultura, a luz passa a identificar-se com a razão. Com António Damásio (2000), a luz torna-se a metáfora para os processos cognitivos da consciência – uma revelação progressiva da existência. Em função destes pressupostos, a questão a que tentamos responder é: “De que forma a arte foi tornando visível o invisível, seja este o sagrado, a razão ou a consciência da própria visualidade?”. A metodologia de investigação que adotamos baseia-se, fundamentalmente, na análise de textos sobre as diferentes conceções do tema e no levantamento das manifestações artísticas e culturais correspondentes aos três momentos de rutura, que entendemos chave, na história da luz: [1] a luz divina [2], a razão como luz [3], a luz como metáfora da consciência. Em síntese, este projeto relaciona diferentes perceções de luz da nossa cultura visual com diferentes conceções de luz, aplicando diferentes lentes: da teologia medieval às recentes descobertas da Neurociência, da Antropologia à Psicanálise, invocando ainda, para além da Semiótica Social, enquanto instrumento de análise, a História & Crítica da Arte, a Estética e naturalmente, as Ciências da Comunicação. A arte mostra-nos como diferentes são as formas, os âmbitos e as estratégias em que a luz, ora se esconde, ora se manifesta. Dos templos do sol às catedrais góticas; das medievais auréolas dos santos ao alto contraste criado por Caravaggio; da fotografia à “arte-luz” (Perreault, 1971; Böhme, 1983; Virilio, 2005), torna-se claro como a diferentes perceções de luz correspondem diferentes conceções de luz, isto é, distintas semióticas. Esperamos, com esta tese de doutoramento, trazer à luz os momentos de descontinuidade da história da visão e da luz, que compõem um conjunto específico de obras, desenhando uma trajetória possível.

 

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ANO

2015

AUTORES

Sílvia Joana Passos Simas Moreira Pinto