Montagem e Cidade: Lisboa no Cinema
“Sabemos que o cinema contribui criativa e activamente nos processos de percepção e apreensão de um espaço ou, no caso, de uma cidade. Matéria de debate e crítica pelo menos desde há um século, as afinidades entre o cinema e a arquitectura, a “Montagem e a Cidade”, têm-se mostrado umas vezes ressonantes e outras dissonantes. Funcionando como dispositivo narrativo eficaz de observação e recepção, o cinema atribui às coisas um ‘topos’ real e imaginado, permitindo que assim se crie uma nova geografia de apoio. Neste trabalho concedemos que tal propriedade cinematográfica vem aumentada por uma outra cinemática, ou seja, para além das imagens em movimento interessou-nos a composição, a emoção e a ilusão resultantes da montagem. A partir da constituição, do levantamento e da análise de um ‘corpus’ fílmico associado ao objecto urbano de estudo, procuramos estabelecer intervalos entre as áreas disciplinares acima enunciadas e, aí, demonstrar a potência que a montagem exerce sobre o espaço. Sendo matéria de análise toda e qualquer longa-metragem de ficção que tenha sido rodada em Lisboa ou a tenha representado, interessa-nos cotejar as formas, os géneros, as escalas, ou, mesmo, os desvios que possam, em algum momento, ter construído uma visão (derradeiramente parcial mas rigorosa) de “Lisboa no Cinema”. Sobre 479 filmes realizados entre 1918 e 2012, a investigação desenvolveu-se não sobre a extensão mas sobre a intenção encontrada em alguns dos planos daí resultantes. Utilizando temas co-existentes nos léxicos cinematográfico e arquitectónico, como o enquadramento, a obliquidade, o percurso, a escala humana, a sequência e a profundidade, circunscrevemos uma migração persistente da cultura cinematográfica para o discurso arquitectónico, como se uma montagem nos apontasse outra versão e visão da cidade. Através do plano aéreo, do ‘travelling’ e do panorama, “Lisboa no Cinema” vem construída enquanto ficção plausível e com propriedades que, sendo inverdades, não deixam de ser adequadamente documentais. Por fim, assumimos ainda que as obras não surgem estudadas na sua inteira duração ou complexidade porque é do corte e da colagem, do intervalo e do movimento, que a investigação faz uso”.
ANO
2017
AUTORES
João Ricardo Rosmaninho Duarte Silva | Orientadores: Francisco Manuel Gomes Costa Ferreira & Paulo Filipe Monteiro