Gama, M. G. (2011). Comunicação e moda: quando o real se realiza em signo
A utopia do corpo perfeito levou-nos a indagar sobre a imersão da técnica na vida, isto é, sobre a fusão da bios com a technê, da hibridez entre o orgânico e o inorgânico. Um corpo corrigido por geneticistas, por mecânicos da saúde, por investigadores, por informáticos e tantos outros técnicos, que são auxiliados por uma tecnologia cada vez mais depurada. Fomos tentando perceber como é que os avanços da tecnociência e da biotecnologia, da engenharia genética, da medicina, da mecânica, da robótica, da cibernética, revolucionaram o modo como o homem se pensava enquanto identidade singular. Procuramos perceber o que está em jogo quando a ciência aspira a criar vida. Estaremos perto de enformar o humano? Se o homem se defronta com a possibilidade de alterar de um modo consciente aquilo que ele é, colocamos a questão: que tipo de humanidade e de sociedade está o homem disposto a construir no futuro? Apesar de tudo, o mundo presente mostra-nos que o corpo se tornou uma matéria inacabada, um esboço a ser corrigido. Está a abrir-se um novo horizonte, em que a tecnologia pode permitir que o “ideal” se faça. Surgem novas possibilidades, para rapidamente se transformarem em novas obrigações. É um passo muito curto o que separa “qualquer coisa pode ser feita” de “alguma coisa deve ser feita”. Foi nossa intenção auscultar se o corpo se tornou numa escrita viva, possibilitando ou não novas formas de fabricação do self, se está em causa o fabrico de uma identidade à flor da pele. Procuramos, ainda, perceber como o novo estatuto dado ao corpo permitiu que se passasse a olhá-lo como espaço de múltiplas possibilidades, ou seja, como o espaço de todos os lugares e não-lugares. Constatamos que, sob o signo do messianismo, deu-se a proliferação da cirurgia estética, que nos mostra todo o valor social do corpo, uma identidade de construção somática: um corpo perspectivado como artifício, como peça que pode ser detalhadamente modelada, ajustada e reajustada. Embora não sendo nossa intenção fazer uma História da moda, encetamos uma Breve Arqueologia e Evolução da Moda e seus Criadores. Por aí se vislumbra que o que marca é o novo, e nessa entronização do presente, da novidade, já Debord exprimia, na década de 60, que a moda repele o já visto e move-se em territórios marcados por práticas indefinidas e ilimitadas. Um dos aspectos finais sobre que incidiu o nosso trabalho foi sobre o Portugal Fashion e toda a sua envolvente.
ANO
2011
AUTORES
Maria Gabriela Gama