Coelho, R. J. S. (2015). O meu ponto de vista é um ponto de escuta. O poder do som nos filmes de Manoel de Oliveira
A proposição que defendo nesta tese é a de que na percepção da mensagem audiovisual os sons que escutamos provindos dos altifalantes são tão importantes para a construção de sentido(s) como as imagens que vemos projectadas no ecrã. Estudo o caso do cinema de Manoel de Oliveira, procurando compreender o modo como, e a medida em que o sonoro contribui para a construção do sentido nos seus filmes. A análise parte do argumento de que numa era em que constantemente somos bombardeados por imagens audiovisuais, a atenção que se tem dedicado aos ecrãs — ou seja, à componente visual dessas imagens — precisa ser complementado com a compreensão do que (se) passa nos altifalantes — isto é, com a sua componente sonora. Pelo caminho, tento descobrir as possíveis razões por que o som tem sido praticamente ignorado nos estudos sobre comunicação: as dificuldades na sua definição ontológica; o seu carácter fluido e efémero; a sua invisibilidade. Chamo a atenção para a importância na nossa vida quotidiana urbana, cada vez mais repleta de sons artificiais ou mediados electronicamente. Concluo que o cinema de Manoel de Oliveira demonstra bem a pertinência e o mérito da tese. O som, nas três modalidades em que o cinema o concebe – voz, música e ruídos – é sustentáculo, tão fundamental como as imagens que se projectam no ecrã, desse “templo grego” que Manoel de Oliveira diz ser o cinema. Não apenas o sonoro se articula com o visual de modo indissociável, como pode ser o motor da própria construção audiovisual.
ANO
2015
AUTORES
Rui Jorge de Sousa Coelho