Cartografias da cultura e da violência: gangues, galeras e o Movimento Hip Hop

“Esta tese trata de um estudo acerca das relações entre cultura e violência no campo das experiências juvenis de bairros de periferia de Fortaleza. Deve-se ressaltar que não se investigou a violência enquanto acontecimento, enquanto observação direta de uma dinâmica concreta de práticas e relações sociais. O eixo central dessa investigação colocou-se no desafio de identificar o imaginário das gangues acerca da violência e suas construções culturais. As primeiras incursões no âmbito de investigação de dinâmicas juvenis no campo específico da violência, se projetaram sob o objetivo de identificar pistas, recorrências capazes de compor, dentro do contexto cultural desses bairros, mapas de significado cultural. A questão central dessa observação e da construção de um objeto de investigação foi a de pensar o seguinte : o que os jovens de periferia, participantes de gangues e galeras consideram violência? Como se articulam as tramas da violência e, fundamentalmente, que significados elas assumem? o que querem expressar as gangues quando encenam um modo territorializado de violência na cidade? Que referentes culturais dão suporte e produzem a experiência das gangues ? A trajetória metodológica desse estudo seguiu um roteiro etnográfico, constituído a partir de mapeamento prévio do campo e das conexões e encontros com gangues e galeras em múltiplos territórios da cidade. Essas mediações locais quase sempre foram efetuadas por representantes de “posses” do movimento hip hop organizado. No final da pesquisa, escolheu-se uma galera específica (Galera da Quadra) como paisagem etnográfica. Desse modo, à medida em que a pesquisa foi se desenvolvendo, lentamente foi também se delineando o escopo da investigação. A gangue institui-se na dinâmica dos encontros e atuações do grupo; ela não possui uma existência autônoma. A gangue é acontecimento, ato tipicamente mágico de manifestação, ela se traduz na ação, ela nomeia-se na repetição. Sendo muitas vezes a gangue o olhar do outro sobre um conjunto de práticas juvenis. É no momento de manifestação que esses jovens mobilizam o olhar do espectador como meio de traduzir sua inscrição social e instituir-se enquanto gangue. É nessa trilha de ação e produção de sentido, na construção da fenomenologia gangue, que torna-se simplificador o registro de um conceito unificador e totalizador da gangue. Concluímos que se a violência torna-se uma dimensão muda, em nível de discurso produzido no interior da própria gangue, sua manifestação pública acaba ganhando uma positividade e instaurando diferenças. É quando os moradores dos bairros proscritos registram sua existência, tornam públicas as suas redes de exclusão social e desafiam novos olhares e pesquisas”.

Palavras-chave: Periferias, Juventude, Arte, Tatuagem, Polícia.

Arquivo completo. 

ANO

1998

AUTORES

Glória Maria dos Santos Diógenes