Salas de estar: uma cidade, várias esplanadas, cinco sentidos

“A rua transforma-se na casa do flâneur,

que se sente em casa entre as fachadas dos prédios,

como o burguês entre as suas quatro paredes”

Walter Benjamin, 1997

Dizem os dicionários que “esplanada” é um lugar ou espaço ao ar livre com mesas e cadeiras onde usualmente se come e se tomam bebidas, refrigerantes, cafés ou chás. Para a Passeio, uma esplanada é muito mais do que isso. É um observatório; um espaço de troca de experiências; um espaço de convívio e de rotinas. A cidade é a nossa casa e as esplanadas são, porventura, as nossas salas de estar. São o lugar onde, durante horas, tardes, meses, observámos o fluxo de pessoas a passar no centro histórico da cidade de Braga.

De junho a dezembro vivenciámos o passar de várias estações do ano, sentindo o calor tórrido do verão e o vento frio do inverno; identificámos personagens de Braga; cheirámos os perfumes das senhoras arranjadas que tomavam o seu chá e os odores das refeições que os estrangeiros comiam; vimos festividades religiosas típicas da cidade conhecida como “cidade dos padres”; ouvimos cantares minhotos, músicas de natal e até mesmo o som das colunas portáteis dos adolescentes que passavam na rua. Na nossa sala de estar, usámos os cinco sentidos: o olfato, a audição, a visão, o paladar e até mesmo o tato. As nossas vivências transformaram-se num estudo etnográfico, mas questionamo-nos se um estudo sobre os outros ou sobre nós próprios.

A nossa casa – Braga – tem muitos compartimentos. Na porta desses compartimentos vemos letreiros: A Brasileira, Ferreira Capa, café Vianna. São, portanto, várias salas, palcos onde se desenrolam muitas vidas.

Amélia (nome fictício) é uma dessas vidas. Dona de uns sessenta anos, todas as sextas, está na sua (e nossa) sala de estar – a esplanada do café A Brasileira – a conversar com as amigas. Destaca-se das restantes do grupo por usar uma maquilhagem muito carregada nos olhos. Esta característica valeu-lhe o nome de “senhora do eyeliner”.

Também o “senhor das raspadinhas” convive na nossa sala. Tornou-se importante pela relação que parece ter com os clientes habituais do café. Existe já uma certa amizade entre aqueles que conversam e tomam café e o senhor que lá está sempre a vender os seus jogos da sorte.

À porta da sala, passeia o comboio turístico vermelho e amarelo. É um objeto simbólico da cidade de Braga. Em todas as salas/esplanadas que visitámos pudemos ver o comboio a passar cheio de passageiros. No verão destacavam-se os estrangeiros, mas em pleno inverno o comboio servia também como diversão para os mais novos, em contexto natalício.

Muitas outras vidas habitam na nossa casa, onde as portas estão sempre abertas para novas experiências.

Sofia Gomes, 01/2018

LOCALIZAÇÃO

LOCAL: Braga

LATITUDE: 41.5518695

LONGITUDE: -8.4249154