COMPRAÇA | O QUE PODE UM MERCADO?

COMPRAÇA é um projeto de investigação e intervenção que visa evidenciar o papel da comunicação social na transformação do espaço urbano em lugar vivido e a participação de cada um no processo de construção de um lugar comum e de um sentir partilhado/contestado.

Recentemente requalificado, o Mercado Municipal de Braga (A Praça), enquanto médium urbano em transformação, constitui um laboratório da vida urbana quotidiana, que permite a observação e o estudo das mudanças, das tensões/conflitos/negociações, mas também das potencialidades e criatividade que pautam as interações sociais entre múltiplos agentes. Compreender a natureza comunicativa desta mesma dinâmica é particularmente relevante, no sentido em que tal nos permite potenciar a eficácia da ação comum entre os sujeitos, nos seus diferentes papéis, o sentido de coesão e ligação na tessitura intersubjetiva e social de um terreno comum e contribuir para cultivar os direitos à socialidade quotidiana, ao ócio e à vida pública no espaço urbano.

As dimensões da comunicação na praça que pretendemos observar, registar e analisar, tendo em vista explorar as formas como se relacionam e mostrar o seu funcionamento simbólico/político, são as seguintes:

  • Verbal: o que dizem/fazem as pessoas que fazem a praça e como tal acontece, tendo particular interesse pelos usos vocabulares e narrativas contadas nesta comunidade de fala;
  • Sociocognitiva: saberes e memórias, crenças e símbolos, representações que circulam e se reciclam; imaginários, visões do mundo que se cultivam e identidades que se constroem entre os usuários da praça, em particular, entre vendedores e consumidores;
  • Sensorial-estética: expressões e manipulação dos sentidos, por via dos corpos, objetos, disposições espaciais/arquitetónicas e respetivos usos;
  • Interacional: papéis, estratégias, jogos e recursos usados nas trocas entre vendedores/vendedores e entre vendedores e consumidores;
  • Performática/ritualística: eventos de venda/compra; ir à praça; estar na praça, conversar na praça; vender na praça, etc;
  • Intersubjetiva: a componente afetiva-emocional dos vínculos que estabelecem os participantes nas interações e nos rituais.

De inspiração etnográfica, o projeto COMPRAÇA envolve o desenvolvimento de um trabalho de campo que implica idas regulares à unidade de estudo e usa as técnicas de observação e de utilização de informantes privilegiados como recursos principais para obtenção de dados empíricos. Utiliza, no entanto, outros procedimentos de recolha de dados: conversas informais, entrevistas de histórias de vida, registos fotográficos e em vídeo, e recolha de vários tipos de documentos sobre a unidade em estudo.

Entende-se que este programa metodológico constitui um recurso importante na produção de conhecimento indutor de formas de intervenção potencialmente transformadoras da auto-perceção dos diferentes agentes no que respeita ao seu papel e modos possíveis de participação cidadã no espaço urbano comum, assim como das políticas na esfera da ação institucional.

Preocupações tais como a sustentabilidade (ambiental e social), a participação-cidadã na esfera política, a funcionalidade social e democraticidade do desenho urbano e arquitetura, a inclusão de grupos sociais desfavorecidos ou de novos grupos emergentes, a reinvenção participada do espaço público, entre outras, concernem tanto a cidades de pequena dimensão como de dimensão global. É com este sentido de participação na discussão pública da vida urbana contemporânea que a Passeio se propõe contribuir com recomendações políticas concretas e sustentadas na investigação no terreno, tendo em vista a sua concretização num documento orientador de boas práticas, a disponibilizar a toda a comunidade interessada.

A equipa do projeto é constituída pelas coordenadoras da Passeio, Helena Pires e Zara Pinto-Coelho.

No decorrer dos três anos que durou o projeto (2021-2023), foram várias as publicações e atividades desenvolvidas pela equipa do projeto (ver listagem abaixo). O manuscrito final será publicado em 2025.

Publicações
  1. Lima, T. (2022). Mercado e moda: estética que é poder. Passeio, CECS.
  2. Pires, H., & Pinto-Coelho, Z. (2022). Everyday mobility in an urban context of uncertainty. Times of resistance in Braga’s Public Market. In P. Andrade & M. Martins (Eds.), Handbook of Research on Urban Tourism, Viral Society, and the Impact of the COVID-19 (pp. 201-224). IGI Global.
  3. Veronez, T. (2021). Um passeio pelo Mercado-Praça: espaço de sociabilidades. Passeio, CECS.
  4. Pinto-Coelho, Z.; Pires, H. & Veronez, T. (2021). Objetos inúteis, recriados e trocados. InteractRevista Online de Arte, Cultura e Tecnologia35.
  5. Pires, H. & Veronez, T. (2021). Ser-corpo na Praça de Braga. Passeio, CECS.
Comunicações em Congressos
  1. Pinto-Coelho, Z. & Pires, H. (2023). Mercados públicos e práticas comunicativas: a significância social e política dos objetos decorativos. XI Congresso Internacional sobre Culturas, Diálogos por uma democracia plural, 6-10 de novembro de 2023, UFMG, Brasil.
  2. Pires, H. & Pinto-Coelho, Z. (2022, 30 agosto-2 setembro). A socio-semiotic approach to the in- between. The inhabited place and the co-production of objects’ meaning in a Marketplace.15th World Congress of Semiotics – Semiotics in the Life World. Tessalónica, Grécia.
  3. Pires, H. & Pinto-Coelho, Z. (2022, dezembro, 5-7). O mercado público como lugar de resistência em contexto pandémico: o caso da Praça de Braga. VIII Congresso Internacional Sobre Culturas, Culturas de Resistência. Braga.
  4. Veronez, T; Pires, H; Pinto-Coelho, Z. (2021, 13-14 outubro). Identidades, histórias de vida e os cacos da história: uma primeira incursão no caso das vendedoras do Mercado Municipal de Braga. VIII Jornadas Doutorais, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Universidade do Minho.
Organização de eventos
  1. Inutilidades e reciclagem com criatividade, Ciclo de conversas na Praça, 1. Mercado Municipal de Braga, 19 de junho de 2021.
  2. Frutas e legumes com letras.   Ciclo de conversas na Praça, 2. Mercado Municipal de Braga, 9 de julho.
  3. Nem tudo o que vem à rede é peixe. Ciclo de conversas na Praça, 3. Mercado municipal de Braga, 25 de maio, 2022
  4. A Praça: lugar de todos os desfiles. Moda (IN)sustentável 2. 14 de julho de 2022.

LOCALIZAÇÃO

LOCAL: Braga

LATITUDE: 41.55498842036173

LONGITUDE: -8.428672041278084